Campanha Contra a Intolerância Religiosa (2023)

Diga #nãoàintolerânciareligiosa! Campanha Contra a Intolerância Religiosa (2023).

Por conta do Dia Nacional de Combate à Intolerância (21 de janeiro), compartilhe nas redes sociais mensagens contra a intolerância religiosa e a favor do respeito e da convivência pacífica entre religiosos e arreligiosos.

Promova e participe de algum ato de combate à intolerância religiosa na sua cidade.

Utilize a hashtag #nãoàintolerânciareligiosa e deixe sua foto e seu recado nas redes sociais, por uma cultura de respeito, convivência pacífica e livre da intolerância religiosa. Você pode acessar os cartazes da nossa campanha através deste link.

Você também pode promover a Volta às Aulas Sem Intolerância Religiosa na sua escola, incentivando seus colegas professores e estudantes a participarem da Campanha Contra a Intolerância Religiosa.

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Coletivo por uma Espiritualidade Libertária lançou o informativo Diálogos & Espiritualidade que aborda a questão da intolerância religiosa e do racismo. Para saber sobre o projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula, leia os textos “Por que falar de religião em sala de aula?” e “É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica”.

Informações (sobre cursos, palestras e oficinas) e contatos: <espiritualidadelibertaria@gmail.com>.

Que o ano de 2023 seja cheio de espiritualidade contra toda injustiça!

Nós do Coletivo por uma Espiritualidade Libertária desejamos que o ano de 2023 seja cheio de espiritualidade contra toda injustiça!

Não deixe de organizar ou participar de alguma atividade contra a intolerância religiosa e contra o racismo na sua cidade e na sua escola. Diga #nãoàintolerânciareligiosa!

Acompanhe o Coletivo por uma Espiritualidade Libertária nas redes sociais: Facebook, Twitter, LinkedIn, Telegram, e Instagram.

Pesquisador aponta problemas na lei paulista de liberdade religiosa

Em artigo publicado no Jornal A Pátria no dia 9 de setembro, intitulado “Por que a lei paulista de liberdade religiosa é problemática?”, o antropólogo Silas Fiorotti criticou alguns aspectos da lei paulista de liberdade religiosa (lei 17.346) que, por sua vez, foi promulgada em março de 2021.

Nas palavras de Silas Fiorotti que é coordenador do Projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula:

A minha crítica recai especificamente sobre: (1) a concepção de liberdade religiosa presente na lei; (2) a proposta do estabelecimento de parcerias entre o poder público e as organizações religiosas para promover a liberdade religiosa; (3) o preconceito subjacente contra as religiões afro-brasileiras; (4) a intenção de cercear o trabalho docente na educação básica; e (5) a aparente ausência de ampla interlocução com os profissionais da educação básica e com as comunidades religiosas afro-brasileiras.

O pesquisador levanta questionamentos a respeito de diversos artigos da referida lei. Entre eles, está o questionamento a respeito da abordagem em relação às religiões afro-brasileiras (artigos 27 e 34): “Por que alguns artigos da lei parecem conter preconceito contra as comunidades religiosas afro-brasileiras?” Fiorotti também questiona os artigos da lei que buscam cercear o trabalho dos professores da educação básica (artigos 33, 69 e 70): “Por que o texto da lei aparentemente considera que os professores são inimigos da liberdade religiosa?”

Para ler o artigo na íntegra, basta acessar o link.

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Coletivo por uma Espiritualidade Libertária lançou o informativo Diálogos & Espiritualidade que aborda a questão da intolerância religiosa. Para saber sobre o Projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula, leia os textos “Por que falar de religião em sala de aula?” e “É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica”.

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Pastores precisam combater a intolerância religiosa cometida por evangélicos

por Silas Fiorotti *

Por que diversas lideranças evangélicas não querem enfrentar efetivamente a questão dos atos de intolerância religiosa cometidos por evangélicos no Brasil?

Em 2016, um pastor evangélico proeminente, de uma grande igreja evangélica histórica aqui da cidade de São Paulo, não aceitou participar de um documentário a respeito da intolerância religiosa sofrida pelos adeptos das religiões afro-brasileiras (ou religiões brasileiras de matrizes africanas). Este pastor queria falar somente a respeito da intolerância religiosa sofrida pelos evangélicos sem mencionar a intolerância sofrida pelos adeptos das religiões afro-brasileiras.

Há casos de líderes evangélicos que supostamente são contra qualquer tipo de intolerância religiosa, mas não querem ter suas imagens associadas à defesa dos adeptos das religiões afro-brasileiras, como é o caso do pastor citado acima. São líderes que temem perder algum prestígio dentro do meio evangélico, temem perder fiéis, e priorizam somente a defesa pública das igrejas evangélicas. Inclusive há um pastor e parlamentar evangélico, também da cidade de São Paulo, que só se dispõe a apoiar indiretamente algumas iniciativas em prol dos religiosos afro-brasileiros, por meio de seus assessores, mas não quer que seu nome esteja envolvido. No entanto, trata-se de um parlamentar que é autor de diversos projetos de lei que defendem os interesses dos evangélicos.

Quando há comoção nas redes sociais por conta de ataques a terreiros ou templos afro-brasileiros, sempre vemos manifestações de evangélicos no sentido de desqualificar a solidariedade aos candomblecistas e aos umbandistas. Estes evangélicos supõem que isto é hipocrisia, supõem que só há comoção em relação aos adeptos das religiões afro-brasileiras e nunca em relação aos evangélicos.

A reação dos evangélicos é ainda mais forte quando apontamos que a maior parte dos atos de racismo e de intolerância contra os adeptos das religiões afro-brasileiras é cometida por indivíduos e por grupos evangélicos. Diversas pesquisas indicam que o aumento da intolerância religiosa no Brasil está relacionado, entre outros fatores, com o crescimento dos evangélicos pentecostais. Ao ler um artigo que aborda isto, um pastor evangélico enviou a seguinte mensagem: “Isso já é intolerável falar de pentecostalismo. Imagine que os pentecostais são os que mais trabalham com a classe mais pobre e a maioria dos pastores são negros. Artigo intolerante”.

Há ainda o exemplo da lei paulista de liberdade religiosa (17.346), sancionada em 12 de março de 2021, de autoria de uma deputada evangélica de São Paulo. É decepcionante constatar que esta lei, em nome da liberdade religiosa, vai no sentido de beneficiar as igrejas evangélicas e não enfrenta efetivamente o problema do racismo e da intolerância que atinge principalmente as comunidades religiosas afro-brasileiras.

Não se pode supor que a defesa de uma liberdade religiosa genérica, concebida a partir de perspectiva católica ou evangélica, é capaz de enfrentar os problemas cotidianos das diversas comunidades religiosas afro-brasileiras e de outros grupos religiosos minoritários. Os evangélicos caminham para se tornar o maior grupo religioso no Brasil e possuem muitos representantes legislativos, não faz sentido ainda considerá-los como grupo religioso minoritário.

A ideia que está presente de alguma forma em todos esses exemplos citados acima é a ideia de que não se pode defender um grupo injustiçado sem defender algum outro grupo que também é injustiçado, especificamente o dos evangélicos. Trata-se de uma ideia equivocada. Quando há algum movimento no sentido da defesa dos adeptos das religiões afro-brasileiras, que é o grupo que mais sofre com o racismo e com a intolerância religiosa no Brasil, todos os outros grupos religiosos também são beneficiados. Outra ideia equivocada é supor que a liberdade religiosa pode ser concebida somente a partir das perspectivas dos maiores grupos religiosos. Não. A liberdade religiosa deve ser concebida no sentido de garantir principalmente a existência e a valorização dos grupos religiosos minoritários.

A liberdade religiosa não deve ser utilizada como desculpa para grandes grupos religiosos se voltarem contra os minoritários, não deve ser utilizada para indivíduos e grupos evangélicos demonizarem as religiões afro-brasileiras. Neste sentido, as lideranças evangélicas precisam se posicionar claramente, precisam enfrentar todos os atos de racismo e de intolerância cometidos pelos próprios evangélicos, não basta apenas a defesa de qualquer concepção de liberdade religiosa genérica.


* Silas Fiorotti é cientista social, mestre em Ciências da Religião, doutor em Antropologia Social, professor colaborador do CPPG-FMU (São Paulo, Brasil), pesquisador, e coordenador do projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula. Desenvolveu pesquisa de doutorado sobre o pentecostalismo em Moçambique e no Brasil. E-mail: <silas.fiorotti@gmail.com>.

Referências:
Fiorotti, S. É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica. In: Observatório da Imprensa, São Paulo, v. 1021, 22 jan. 2019.
Fiorotti, S. Intolerância religiosa dos evangélicos na educação básica: breve análise de alguns casos. In: Interritórios: Revista de Educação, v. 5, n. 9, 2019, pp. 213-231.
Fiorotti, S. Lei paulista de liberdade religiosa beneficia evangélicos e não enfrenta a intolerância religiosa. In: A Pátria, Funchal, 30 nov. 2020.

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Coletivo por uma Espiritualidade Libertária lançou o informativo Diálogos & Espiritualidade que aborda a questão da intolerância religiosa. Para saber sobre o projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula, leia os textos “Por que falar de religião em sala de aula?” e “É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica”.

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Gratidão, Thiago Fuschini (1976-2021)

Gratidão, Thiago Fuschini (1976-2021). Adeus, amigo!

Nós, do Coletivo por uma Espiritualidade Libertária, lamentamos o falecimento do amigo Thiago Pavão Fuschini, no sábado, dia 14 de agosto de 2021, aqui na cidade de São Paulo. Ele foi sepultado em Santos, sua cidade natal, no dia 16 de agosto. Deixamos aqui nossos sentimentos à sua esposa Ana Cláudia e aos seus familiares. O Thiago foi um grande colaborador e membro do nosso coletivo, promoveu encontros em sua própria residência, contribuiu em diversas reflexões e foi incansável na defesa de uma espiritualidade que se coloca contra as injustiças.

Seguem abaixo algumas mensagens:

“Adeus, querido Thiago! Thiago Fuschini, presente!” (Elaine Martins Donda)

“Hoje as ruas de São Paulo conseguiram se tornar um pouco mais frias e menos humanas. Descanse em paz, Thiago Fuschini.” (Héder Honório)

“Infelizmente nosso amigo Thiago Fuschini partiu. Mas deixou boas lembranças e ensinamentos. Aprendi muito com ele na faculdade, nos papos, nas caminhadas pelas ruas. Sempre muito hilário, generoso, e principalmente solidário com as pessoas mais vulneráveis. Adeus, amigo.” (Silas Fiorotti)

“Ontem doeu saber que você partiu, companheiro Thiago. Não consegui elaborar nenhuma palavra. Mal consegui dormir. Hoje posso dizer: vamos honrar sua luta seguindo em frente em defesa dos pobres. Thiago Fuschini, presente!” (Caio Marçal)

“Grande Thiago… Um amor de pessoa. Muito atencioso, respeitoso, divertido… Um cristão que procurava se desencaixar… Vá em paz, meu amigo. Deus continue te abençoando com seus anjos protetores. Seu legado de amizade, carinho e inteligência? Esse nos acompanhará.” (Eduardo Meinberg Maranhão)

“Hoje perdemos um amigo, Thiago Fuschini um grande guerreiro da luta por justiça e por um mundo onde todas as pessoas possam existir com igualdade e sem violência. Thiago era um militante sempre muito prestativo e companheiro.” (Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio)

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Ver vídeo, de fevereiro de 2020, em que Thiago Fuschini fala sobre a população em situação de rua da cidade de São Paulo:

Seleção de materiais do projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula

— Campanha Contra a Intolerância Religiosa (desde 2014) #nãoàintolerânciareligiosa <http://bit.ly/2nIPeDv>.

— “É preciso dizer não à intolerância religiosa no Brasil”, por Amauri Alves e Silas Fiorotti (2014) <http://bit.ly/2BoRKoh>.

— “Por que falar de religião em sala de aula?”, por Silas Fiorotti (2016) #diversidadereligiosa #diversidadenaescola <http://bit.ly/2BrhQHl>.

— “Diálogos & Espiritualidade”, informativo aborda a questão da intolerância religiosa (2017) <http://bit.ly/2APtzP0>.

— “Ser muçulmana é ter fé em Deus único, é ser livre apesar de acharem que eu sou oprimida o tempo todo, por todo mundo”, entrevista com Sarah Ghuraba (2017) <http://bit.ly/2ASqcqC>.

— “Ser de candomblé é assumir o risco de ser discriminado o tempo todo”, entrevista com Patrício Carneiro Araújo (2017) <http://bit.ly/2Jojm1I>.

— “Enfrentando o preconceito como alternativa para a promoção da saúde”, por Eugênia Zilioli Iost (2017) <http://bit.ly/2iJpyRN>.

— “Qual dever ser o lugar da religião na educação básica?”, por Silas Fiorotti (2017) <http://bit.ly/2ULBZOl>.

— Volta às Aulas Sem Intolerância Religiosa (desde 2018) #voltaàsaulassemintolerânciareligiosa #voltaàsaulas <http://bit.ly/2OfUaZZ>.

— “É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica”, por Silas Fiorotti (2019) <http://bit.ly/2FkcKMw>.

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Coletivo por uma Espiritualidade Libertária lançou o informativo Diálogos & Espiritualidade que aborda a questão da intolerância religiosa. Para saber sobre o projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula, leia os textos “Por que falar de religião em sala de aula?” e “É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica”.

Informações (sobre cursos, palestras e oficinas) e contatos: <espiritualidadelibertaria@gmail.com>.

Artigo “Economias morais evangélicas e governo Bolsonaro em tempos de pandemia” publicado na Revista Plura

Na última edição da Plura, Revista de Estudos de Religião (v. 12, n. 1, 2021) foi publicado o artigo Economias morais evangélicas e governo Bolsonaro em tempos de pandemia de autoria de Silas Fiorotti, coordenador do projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula.

Segue abaixo o resumo do artigo:

Resumo: O artigo aborda as relações entre os evangélicos e o governo Bolsonaro a partir da análise de alguns discursos morais. Para isto, afasta-se das distinções entre o que seria estritamente religioso e o que seria estritamente político, e das distinções entre forma e conteúdo. A abordagem volta-se para a maneira como o estado se relaciona com os agentes religiosos ou “regula” as atividades religiosas, e volta-se para os discursos morais e para as formas sensoriais. Entre os elementos destaca-se: a ideia de que os evangélicos constituem uma minoria perseguida, a defesa da concepção de liberdade religiosa irrestrita, as formas sensoriais dos evangélicos pentecostais e da cultura pública evangélica de um modo geral. A hipótese é de que estes elementos e valores morais são mobilizados e conjugados com as estratégias de poder dos líderes das grandes igrejas pentecostais e as estratégias de poder do presidente Jair Messias Bolsonaro. Mas não somente por eles, há um compartilhamento destes elementos por um contingente mais amplo de evangélicos brasileiros. Em tempos de pandemia da covid-19, fica ainda mais evidente que as chamadas economias morais evangélicas são mobilizadas em prol do oportunismo e da irresponsabilidade.

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Coletivo por uma Espiritualidade Libertária lançou o informativo Diálogos & Espiritualidade que aborda a questão da intolerância religiosa. Para saber sobre o projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula, leia os textos “Por que falar de religião em sala de aula?” e “É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica”.

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Lei paulista de liberdade religiosa beneficia evangélicos e não enfrenta a intolerância religiosa

por Silas Fiorotti *

Em pleno Dia da Consciência Negra (20 de novembro), o Brasil acordou com a notícia e as imagens do assassinato de Beto Freitas (João Alberto Silveira Freitas) em unidade do supermercado Carrefour, na cidade de Porto Alegre. Nem é preciso dizer que uma pessoa branca não seria espancada pelos seguranças de um supermercado e com a conivência de outros funcionários, mas muita gente esquece que a pessoa negra subserviente normalmente é tolerada. Beto Freitas não foi espancado exclusivamente pela cor de sua pele, provavelmente os seguranças ficaram enfurecidos porque ele não abaixava a cabeça, porque ele não aceitava ser tratado como inferior. De um modo geral, tanto policiais como seguranças privados consideram que um negro com determinado estilo e vestuário (tatuagem, corte de cabelo e barba, corrente, brinco, camiseta, bermuda, boné) não merece ser tratado com dignidade.

A questão do racismo no Brasil não está restrita à cor da pele e não é somente uma herança da escravidão como muitos querem crer. O Brasil teve, sim, uma escravidão muita longa e extremamente cruel à população negra. Mas para além da escravidão, o estado brasileiro desempenhou e continua desempenhando um papel central na criação de desigualdades raciais com barreiras para a população negra ascender socialmente, para estudar e para comprar terras, com políticas de branqueamento, negação do racismo, abusos policiais, encarceramento em massa, criminalização, marginalização, extermínio da população negra, etc. Neste sentido, pode-se dizer que há, sim, um racismo estrutural que continua operando no Brasil e que periodicamente recebe manutenção.

O racismo no Brasil volta-se contra a cultura afro-brasileira. As manifestações culturais que nascem junto com a população negra são consideradas inferiores, primitivas, animalescas, lascivas, e demoníacas. Os atos de intolerância religiosa voltam-se principalmente contra as religiões afro-brasileiras (os candomblés, as umbandas e outras); por isto, diversos pesquisadores afirmam que trata-se de racismo religioso. Constatam-se novas tentativas de criminalização das religiões afro-brasileiras, são principalmente projetos de lei que buscam criminalizar os rituais dos candomblés com sacrifícios de animais.

Aqui em São Paulo, uma lei estadual com o objetivo de defender a liberdade religiosa e combater a intolerância religiosa será promulgada em breve. No dia 25 de novembro de 2020, os deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), aprovaram o projeto de lei 854 de autoria da deputada evangélica Damaris Moura, e seguiu para a promulgação do governador. Isto poderia ser motivo de comemoração, mas é decepcionante constatar que o texto da lei, em nome da liberdade religiosa, vai no sentido de beneficiar as igrejas evangélicas e não enfrenta efetivamente o problema da intolerância religiosa.

O texto da lei é extremamente problemático. Faz menção às intenções genéricas no sentido de promover a liberdade religiosa, mas não enfrenta os casos concretos de intolerância religiosa. A parceria entre o poder público e as organizações religiosas é tomada como algo de interesse público e que não fere a laicidade, sendo que ela pode ser estabelecida até mesmo para promover a liberdade religiosa nos órgãos públicos. Como diz o artigo 38: “Não constitui proselitismo religioso nem fere a laicidade estatal a cooperação entre o Poder Público Estadual e organizações religiosas com vistas a atingir os fins mencionados neste artigo”. A pergunta que se impõe é a seguinte: como as igrejas evangélicas, as mais prováveis parceiras, combaterão a intolerância religiosa que elas mesmas promovem contra as religiões afro-brasileiras?

Há uma insistência na afirmação de que o poder público não pode priorizar nenhuma religião. Mas se as religiões afro-brasileiras são aquelas que mais sofrem com a intolerância religiosa e com o racismo, não deve haver uma priorização no sentido da defesa e da valorização destas religiões? Muito pelo contrário, está subentendido no texto da lei, nos artigos 28 e 35, que as religiões afro-brasileiras não respeitam os animais e não respeitam o meio ambiente.

Outra insistência da lei é no sentido da intervenção na educação básica. O artigo 34 diz: “As escolas públicas do Estado de São Paulo não admitirão conteúdos de natureza ideológica que contrariem a liberdade religiosa”. A lei prevê até mesmo multa para professores supostamente doutrinadores que tentam “incutir convicções religiosas e ideológicas que violem a liberdade religiosa” (artigo 70). O que significa isto?, trata-se de nova tentativa de cercear o trabalho docente?

Não pretendo ser chato ou petulante para os apoiadores desta lei. Mas insisto, não encontrei nada, nenhuma medida que efetivamente enfrenta o racismo e a intolerância religiosa. Muito pelo contrário, tudo indica que a lei será utilizada para perseguir as pessoas que defendem e valorizam as religiões afro-brasileiras.

[Artigo publicado originalmente no jornal A Pátria, Funchal, 30/11/2020.]

* Silas Fiorotti é membro do Coletivo por uma Espiritualidade Libertária e coordenador do projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula. Email: <silas.fiorotti@gmail.com>.

Referências:
Carneiro, S. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011.
Fiorotti, S. É preciso combater a intolerância religiosa na educação básica. In: Observatório da Imprensa, São Paulo, v. 1021, 22/1/2019.
Fiorotti, S. Intolerância religiosa dos evangélicos na educação básica: breve análise de alguns casos. In: Interritórios: Revista de Educação, v. 5, n. 9, 2019, pp. 213-231.
Moura, D. Projeto de lei 854: institui a lei estadual de liberdade religiosa no Estado de São Paulo e dá outras providências. São Paulo: Alesp, 02/8/2019.

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Questões que os líderes evangélicos no Brasil precisam responder

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O grande crescimento dos evangélicos no Brasil, algo que vem ocorrendo nas últimas décadas, representa uma redefinição do próprio religioso. Os católicos sempre constituíram o grupo religioso majoritário e sempre definiram o lugar da religião no Brasil, mas isto vem mudando. Os evangélicos já constituem aproximadamente 31% da população e continuam crescendo, enquanto os católicos constituem aproximadamente 50% da população e continuam decrescendo. Nos próximos cinco ou dez anos, se a tendência continuar a mesma, os evangélicos constituirão o maior grupo religioso no Brasil. Esta presença evangélica é um desafio quando pensa-se no jogo democrático brasileiro, na concepção de laicidade que está se constituindo e nos limites (ou ausência de limites) da liberdade religiosa.

Os eleitores evangélicos são aqueles mais suscetíveis a seguirem a opção política indicada por seus pastores e bispos. Mesmo quando diversos líderes evangélicos dizem que não misturam religião com política, é possível constatar que eles participam da política partidária de forma dissimulada. Por exemplo, quando há convocação para “jejum e oração pelo Brasil” significa que é no sentido de apoio a determinado governo ou candidato, mas quando há convocação para “jejum e oração contra a iniquidade” é no sentido de oposição a determinado governo ou candidato. Quando há menção ao princípio da submissão às autoridades é somente em relação ao governo que agrada os respectivos líderes evangélicos, caso contrário isto não é mencionado.

Os próprios líderes das grandes igrejas pentecostais atuam direta ou indiretamente na política partidária. São pastores, reverendos e bispos evangélicos, ou seus filhos e outros familiares, que fazem parte das frentes parlamentares ou bancadas evangélicas no Congresso Nacional e nas câmaras estaduais e municipais, que estão na direção de alguns partidos e que ocupam cargos públicos. Esta atuação dos líderes pentecostais caracteriza-se como abuso do poder religioso e prejudica o jogo democrático brasileiro, porque os membros das igrejas evangélicas se sentem obrigados a seguirem os mesmos posicionamentos políticos de seus líderes.

Não são somente os líderes pentecostais que estão na política partidária. Diversos membros do governo de Jair Messias Bolsonaro são pastores de igrejas evangélicas históricas (estão atuando no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, no Ministério da Justiça, no Ministério da Educação, entre outros). Mesmo que estes pastores defendam a laicidade em seus discursos, defendam a separação entre o estado e as instituições religiosas, o próprio fato deles serem líderes religiosos e, ao mesmo tempo, membros de um governo já caracteriza-se como uma violação do princípio da laicidade.

O que dizer das candidaturas de líderes evangélicos pelos partidos de esquerda? Por que os partidos de esquerda estão com esta nova estratégia de apresentar pastores e pastoras, reverendos e reverendas, como candidatos? Por que isto agora? A resposta padrão tem sido: “laicidade não pode ser confundida com proibição da participação política por pessoas de fé”. Quando o pastor ou pastora, reverendo ou reverenda, é candidato dos partidos de esquerda, deixa de ser visto como líder religioso e passa a ser considerado apenas uma “pessoa de fé”. Esta é a forma da esquerda amenizar a violação do princípio da laicidade que ela promove.

Constata-se que líderes evangélicos de diferentes denominações e com as mais variadas posições políticas não estão dispostos a discutir e definir os limites da liberdade religiosa. Isto nos remete a outras questões relacionadas às atividades das igrejas evangélicas. Como os líderes evangélicos não estão dispostos a discutir sobre a laicidade e a liberdade religiosa de um modo geral, uma estratégia que podemos utilizar é colocando questões relativas a casos concretos:

  • O que você acha das dívidas milionárias das igrejas evangélicas relacionadas a encargos trabalhistas? Isto é ético e aceitável? Sim ou não?
  • O que você acha das igrejas evangélicas remunerarem seus pastores com base na arrecadação, como se fosse uma participação nos lucros? Isto é ético e aceitável? Sim ou não?
  • Você acha ético e aceitável as lideranças pedirem dízimos e ofertas para pessoas pobres? Você acha ético e aceitável pedir dízimos e ofertas para quem tem renda inferior a um salário mínimo? Sim ou não?
  • Você acha ético e aceitável um líder religioso (pastor, pastora, reverendo, reverenda, bispo, bispa, etc.) atuar ao mesmo tempo como líder religioso e como político, ter o púlpito e a tribuna? Isto é ético e aceitável? Sim ou não?

Esses elementos apresentados indicam que a presença evangélica tem de alguma forma prejudicado o jogo democrático brasileiro. É imprescindível discutir sobre a concepção de laicidade que está se constituindo no Brasil, é preciso estabelecer alguns limites mínimos para a liberdade religiosa, algo que seja minimamente aceitável, e coibir as atividades criminosas no meio evangélico. Se os pastores acham que propor algo assim trata-se de perseguição contra os evangélicos, então pelo menos respondam algumas questões concretas.

[Este artigo foi publicado originalmente no jornal A Pátria, Funchal, 21/7/2020.]

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Silas Fiorotti é membro do Coletivo por uma Espiritualidade Libertária e coordenador do projeto Diversidade Religiosa em Sala de Aula. Email: <silas.fiorotti@gmail.com>.

Referências:
Fiorotti, S. Liberdade religiosa dos evangélicos em tempos de pandemia. In: A Pátria, Funchal, 23/3/2020.
Fiorotti, S. Educação básica como um campo em disputa para evangélicos. In: A Pátria, Funchal, 06/5/2020.
Tsavkko-Garcia, R. Is Brazil Becoming an Evangelical Theocracy? In: Sojourners, Washington DC, 02/1/2020.

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